26 de out. de 2008

Acontece que eu sou baiano

Apesar de nascido e criado na cidade do Rio de Janeiro, cada vez mais me convenço de que sou baiano. Prova disso é que sempre sou confundido com baiano, pelo menos aqui no Rio, e apesar dos mais diversos avisos, não dispenso a boa comida baiana com seus dendês, leites de coco, feijões fradinhos e pimentas.
Pois estive na capital baiana recentemente e, gastronomicamente falando, foi uma experiência ainda mais rica do que da última vez que tive o prazer de percorrer, sempre de chinelo de dedos, os bares e restaurantes soteropolitanos.

Sexta-feira

Dia da chegada! O estômago colado e a boca seca! A solução estava ali, bem pertinho. Vários bares na orla do Farol da Barra. Aqui não teve indicação. Foi na base do bateu o olho, gostou, entrou. Bem, o “entrou” que eu disse é metáfora, porque, afinal, o bom é ficar na calçadinha do bar. O siri-bola e o caranguejo estavam no ponto. Pra ajudar a matar a sede whiskynho (sempre!) e roska (vodka com fruta e gelo).

Como um par de crustáceos não enche barriga, ataquei de acarajé sem pedigree. Aquele da esquina e que não tem barraca famosa. Apesar de o camarão seco e defumado estar com uma cor prá lá de forte ainda estou aqui e não tive piriri.

Por volta das 02:00h, a saideira. O local escolhido foi o Bistrô Portosol, de cozinha austro-húngara, em pleno Porto da Barra. O fogão é comandado por Reinhard Lackinger, austríaco radicado no Brasil desde 69, e por Maria Alice Lackinger, sua esposa. O local é uma verdadeira galeria de arte com fotos de artistas e de clássicos do cinema, e fundo musical dos anos 50, anos 30. Diante do farto cardápio, atacamos de tira-gosto; linguição cozido com mostarda forte tipo Dijon. Uma delícia que foi muito bem acompanhada por uma cerveja geladíssima. Mas creia! O “forte” que adjetiva o petisco não é apenas um classe gramatical. Minha esposa apelidou o condimento de mostarda Dijon-baiana. Eu, que aprecio mostarda, inaugurei o petisco besuntando um pedaço da lingüiça, ainda quentinha, no creme amarelado. Qual foi minha surpresa ao sentir a língua dormente, as vias nasais em ardência e uma incômoda dor no cocuruto; tudo ao mesmo tempo. Portanto, cuidado! Na Bahia até o alimento com a aparência mais inofensiva você te pregar uma peça.

Sábado

O dia começou mal, com um café da manhã prá lá de chocho. Queijos passados, salames rançosos e pães nada frescos no Hotel Sol Bahia. Sempre que me encontro em situações como esta, paro de comer imediatamente para não comprometer o meu apetite. Além do mais a hospedagem, neste dia, graças a Deus, seria no Ibis, em Rio Vermelho.

A 40km do Porto da Barra fica a Praia do Forte. Integrada a um shopping a céu aberto, em formato de vila, e tendo o projeto Tamar como porta de entrada, a Praia do Forte é das melhores. Limpa, água morninha, rasa e calma; bem calma. As ondas (?) quebram a uns 100 metros da areia. Daí, o mar vira piscina natural. Mas como nada é tão bom que não possa ser melhorado, existem baianas que ficam ali vendendo acarajé, espetinho de camarão graúdo, cerveja e roska. Ali sim comi o melhor acarajé da viagem. Feito na hora, massa fresquinha, camarões no ponto, vatapá, caruru, salada e a pimentinha. Tudo no pratinho, à francesa.

Também provei do queijo coalho vendido na praia por um ambulante. Já sabia de outros carnavais que o queijo de lá do nordeste nada tem a ver com o que é vendido fora de lá. Mesmo em feiras, restaurantes típicos, praias da região dos lagos, aonde o coalho é figura fácil, não se consegue chegar à textura do queijo que é preparado por um anônimo agachado na areia, abanando a brasa com um leque de palha. O queijo fica crocante por fora e cremoso por dentro. Tem sabor acentuado, aparece na boca. Muito bom!

Agora, um conselho: peça sempre o cardápio antes de fazer os pedidos. Saiba o preço do que vai consumir antes de pedir. Vi os garotos da barraca cobrando o dobro do preço de um camarada que já tinha comido um espeto de camarão (R$5,00) mas não tinha visto o cardápio.

Quando o relógio marcava 17:00h partimos para o almoço. Minha esposa já tinha o restaurante na cabeça: Souza Bar. Este ficava no outro extremo da vila. O passeio até lá foi agradável. Aromas, cores, e uma energia muito boa durante a caminhada. Descobri uma tapioca das boas, feita de uma maneira muito particular. No lugar das tradicionais frigideiras, foi utilizado um grande fogão à lenha com uma chapa metálica no lugar do queimador. Ali, naquele grande quadrado negro era depositada a tapioca branquinha e o seu recheio. Esta foi a sobremesa: tapioca de coco com leite condensado.

O prato principal fez jus à espera, à distância e à expectativa. Para ser sincero, superou, em muito, todas as minhas expectativas. Pedimos moqueca de camarão, que foi não só a melhor moqueca que já comi como também uma das melhores experiências gastronômicas da minha vida. Espetacular!! O leite de coco feito na hora, o camarão, fresco e em abundância, arroz branquinho, fumegando, e a forofinha, discreta, para dar a liga. Sem comentários!!! O único porém é que depois da moqueca, não queria comer mais nada...Tudo tinha perdido a graça. As refeições que a sucederam passaram a ter muitos defeitos (sem sal, falta tempero, está morna, está quente, passou do ponto,...). Demorei alguns dias para ter o meu prazer em comer de volta. Talvez tenha sido por isso que não achei graça no acarajé da Dinha. O lugar me pareceu uma espécie de McDonald’s de acarajé; parecia semi-automatizado.

Mas como o prazer pela bebida não tinha sido abalado, fechei a noite numa cachaçaria muito simpática chamada Água Doce. A rede possui 95 lojas espalhadas pelo Brasil, sendo que em São Paulo ficam 65 destas. No Rio não tem nenhuma! Os rótulos são muitos, o serviço é atencioso e a pinga vem acompanhada de uma azeitona verde espetada no palito. Pedi uma Salinas e depois uma Vale Verde. Ótimas. Tentei um caldinho de sururu, mas achei destemperado (por que será?)

Domingo

O domingo ficou muito comprometido pela Maldição da Moqueca Baiana. Além do mais era o dia de voltar pra casa. Com as malas no carro voamos para um lugar chamado Pedra Furada. É dica de cria da terra, então não se vê tantos turistas. O lugar é uma espécie de piscinão de Ramos baiano em dia de excursão; na forma e conteúdo. Existem três restaurantes no local (não estou contando os que ficam dentro da, digamos, “comunidade”). Um com espera de mais de 1 hora e os outros dois às moscas. Depois de comer em um deles descobri o motivo de eles viverem às moscas.


Serviço

Bistrô Porto Sol
Rua César Zama, 04 Porto da Barra – Salvador – BA
Telefone: (055) 71 3264 - 7339 /Celular: (055) 71 9963-6433
Aberto de terça-feira a sábado das 18:37 às 24:59

Baiana do acarajé perfeito
Praia do Forte (após o projeto Tamar)
Rio Vermelho-Salvador-BA

Souza Bar (é o Souza da Vila, não o do Projeto Tamar)
Praia do Forte - Zona 0 - 3676-1129 / 3676-1033
Rio Vermelho – Salvador – BA

Água Doce Cachaçaria
Rua fonte do Boi, 32
Rio Vermelho - Salvador – BA


Trilha sonora

Caetano Veloso

  • You don't know me
  • Nine out of ten
  • Triste Bahia
  • It's a long way
  • Mora na filosofia
  • Neolithic man
  • Nostalgia (That's what rock'n roll is all about)
  • A little more blue
  • London, london
  • Maria Bethânia
  • If you hold a stone
  • Shoot me dead
  • In the hot sun of a christmas day
  • Asa Branca
  • Muitos carnavais
  • Pecado original


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