25 de jun. de 2009

A velha forma de comer - Parte II


A França superou a minha expectativa. E olhe que ela era enorme! No primeiro texto disse que a balança tinha ficado equilibrada entre conceito e produto. O que pesou para o lado negativo foi a Itália. O serviço, o pão, a pizza e a instabilidade de alguns restaurantes fizeram feio. Mas, va benne, também tive surpresas agradabilíssimas e lá pude apreciar o prato mais gostoso da viagem.

Já trabalhei em um lugar em que era freqüente pedirmos uma pizza numa sexta-feira ou em datas coladas a feriados. A idéia sempre começava com o envio de um e-mail seguido da confirmação ou não das pessoas dispostas a cotizar. Numa destas vezes, para incrementar a convocação, entrei na web e copiei a imagem de uma pizza que me fez pensar o seguinte: quando eu for a Itália irei atrás desta pizza. A nota, no rodapé, dizia que ela era feita à moda napolitana.
Pois eu fui a Itália, comi pizzas diversas e a única coisa que eu achei foi a certeza de que prefiro as pizzas daqui do Brasil. Eu gosto da pizza de massa fina e com bastante cobertura. Eu dou mais valor ao que está na parte de cima da pizza, enquanto na Itália a parte de baixo é a mais valorizada. Do contrário não entendo porque muitas pizzas têm a massa tão grossa e a quantidade de cobertura, ínfima. Experimentei pizzas inteiras, fatiadas e al taglio. A melhor opção foi em fatias, que comi em uma lanchonete em Roma.
Agora, quando falo que as do Brasil são melhores estou falando de lugares como Excelença, Capriccosa e Stranvaganze. Sem essa de massa de pão!!

Ao contrário de Paris, na Itália o couvert (pão e água) é cobrado. Mesmo que você não consuma. Se consumir lhe dirão que a cobrança é pela comida, se não consumir lhe dirão que é por causa do prato e talheres arrumados sobre a sua mesa!! O problema não é pagar o couvert, que é barato, o problema é que é ruim! O pão é duuuuuro demais. E não é gostoso. Dispensável.

Em Roma, perto da estação Termine, fica o restaurante Manin. Familiar e com uma cozinha instável. Tive oportunidade de saborear um jantar delicioso na minha estréia italiana; eu e minha esposa. Foi uma refeição perfeita. Antepasto de presunto cru com muzzarela (fresquíssima). Depois vieram espaguete ao pomodoro, espaguete ao frutos do mar e saltimboca a la romana. Deliciosos! A massa no ponto de cozimento ideal e o frescor dos ingredientes do molho eram surpreendentes.

O jantar foi tão bom que resolvi repetir a dose num outro dia. Devia ter ficado com a primeira impressão. A pedida foi nhoque de batata e espaguete ao vongole. O nhoque, pesado e seco. O vôngole do espaguete ficou na cozinha; mas o prato veio cheio de cascas vazias. Para quem não sabe, o distinto blogueiro que vos fala não vive só acertos. Apesar de encarar umas cozinhas difíceis por aí, no blog só coloco as vitórias.

Em frente ao Manin fica o Nuova Stella. Restaurante elegante e com varandinha convidativa. O antepasto é delicioso. A Focaccia (cobrada à parte), fininha, chega à mesa ainda quente. Presunto cru, berinjela gratinada e cebola caramelizada regados a azeite extra-virgem são obrigatórios. Os pratos foram risoto de frutos do mar e espaguete a carbonara. Um Dolceto d’ Alba nos fez companhia. Vale a visita.

Saindo um pouco de Roma chega-se a costa Malfitana. Lá comi um peixe que tinha a responsabilidade de ser um dos mais gostosos que eu iria comer na vida. Não correspondeu. Passou longe. Estava bom, e somente isso. Qualquer tambaqui na brasa é muito mais gostoso do que o peixe de Amalfi. Por lá, bom mesmo é um licor chamado limoncello, feito à base de limão siciliano.

Vale dar uma esticada em Positano que é coladinho a Amalfi e provar o mil folhas do Molino Verde. Para acompanhar peça um café com Nutella. Não vá querer fazer dieta na Europa, não é?

Deixando Roma para trás cheguei a Florença e na Trattoria Zázá pude apreciar um espaguete à carbonara de se comer ajoelhado. A entrada, um mix de queijos, quase roubou a cena, mas o frescor dos ingredientes utilizados no preparo do prato principal falou mais alto.

No meio do caminho entre Florença e Bolonha, pela estrada secundária, tinha um trailler limpíssimo (a decoração e os aventais do casal era em branco branquíssimo!) que servia um disputado sanduíche de tripa de porco. Não me arrependi de ter provado, assim com não me arrependi de ter comido carne de cavalo em Bolonha. Mas nos dois casos, não voltarei a comê-los. Não dá pra morrer de saudades de comer carne de cavalo e tripa de porco!

Florença, pequena e charmosa, é para ser aproveitada a pé. Ruas estreitas e antigas, a noite, são tal qual um agradável labirinto nas imediações do mercado central. Esse robusto mercado de 2 andares e muita fartura de aromas, sabores e cores funciona rodeado pelo intenso comércio de rua florentino, com suas muitas barraquinhas de suvenires e roupas de couro. Queijos e frios aqui, infinidade de cogumelos ali e peixes variados acolá dão o tom do estabelecimento. Seus corredores devem ser percorridos com calma. Sem pressa. Há de se admirar o comportamento dos locais, suas negociações com os comerciantes e fazer o tempo parar. Pelo menos um pouquinho.

O horário da visita, pouco mais de 11:00h, gerou um impasse. Iríamos de café da manhã ou adiantaríamos o almoço? Na dúvida, ficamos com os dois. Acomodamos-nos em uma bancada ao lado da loja onde compramos salame, mortadela, presunto, queijo, molho pesto e pão. Eu, como estava almoçando, fui de vino rosso. Minha esposa, mais conservadora, foi de café com leite. Ponto pra gente! A refeição estava ótima.

A famosa torre de Pisa também foi alvo da viagem, que não era só gastronômica. Após atravessar as sempre presentes barraquinhas de bugigangas e os africanos com suas bolsas consegui contemplar o curioso monumento. A percepção da inclinação da torre depende do referencial, claro. Em certos ângulos é assustador! Tanta contemplação deu um pouco de fome e adentramos uma pequena loja de produtos típicos toscanos, situada no outro lado da rua. Ali comi uma das melhores brusquetas que já havia experimentado. Pequena e coberta apenas por tomates, na primeira mordida a qualidade do azeite que embelecia o pão chega às papilas e nos presenteia com uma onda de bem estar que só comendo pra comprovar. A loja, pequeníssima, conta com o atendimento de um senhorzinho simpático e conversador. Vale experimentar também os doces.

A última parada foi Veneza. E pra início de conversa, Veneza é um lugar romântico pra caramba. Pode parecer que romantismo nada tem a ver com o assunto do blog, que é gastronomia. Ledo engano! O seu estado de espírito influencia diretamente no que você come, sim. Lugares como Veneza pedem mais vinho que o normal, mais calma para apreciar os detalhes que o habitual e mais, muito mais proximidade com a companhia que o usual. Veneza é assim. Inspira os amantes e aquece demais os corações.

O restaurante escolhido foi o Trattoria alla Madonna. No início do texto eu havia sinalizado que a melhor refeição da viagem foi na Itália. Pois essa mítica refeição foi bem aqui. Nesta aquecida e concorrida Trattoria. Será que foi por causa do romantismo? Bem, essa resposta, jamais terei.
A pequena porta de entrada nos transporta para um ambiente bem iluminado e também muito movimentado e barulhento, afinal, estamos na Itália. À esquerda uma grande bancada de metal, vidro e mármore acomoda algumas das preciosidades marinhas do local. São verdadeiros tesouros que estão ali fresquinhos, alguns vivos, que são alvo da cobiça dos comensais.

Começamos com um misto de frutos do mar. Estavam lá lambreta, polvinho, camarão e calamares. Acompanhamos de vinho rosé. O prato que abriu a refeição foi uma saborosa sopa de peixe. Agora, após a primeira garfada na lula na tinta com polenta de milho branco...tive a certeza de que nenhuma outra comida que viesse depois me agradaria. Sorte minha que já era hora de voltar pra casa. Consigo me lembrar claramente do sabor, aroma e textura do prato (que é o prato que abre a matéria). Perfeito! Ainda volto lá pra repetir a dose!


Trilha Audio-visual:

*O Último Rei da Escócia



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17 de jun. de 2009

Pílulas...

Bem...vamos beber!!
Estamos inaugurando um espaço para receitas de drinques e sugestões de bebidas.
Para começar com um clima de tudo azul segue a receita do Blue Lagoon.

Ingredientes:
*4 doses de gin
*1 dose de curaçau blue
*Soda Limonada
*Fruta para decorar (cereja, laranja)

Preparo:
*Misture o gin e o curaçau num copo com gelo
*Complete com soda limonada e decore com a fruta

Crédito da foto http://farm1.static.flickr.com/133/402826893_9c1a3087bf.jpg

8 de jun. de 2009

A velha forma de comer - parte I

Em primeiro lugar gostaria de pedir desculpas pela ausência forçada. Mas a vida particular me exigiu muito em vários setores. Agora, tudo ajeitado, posso retornar aos trabalhos, ou melhor, aos copos, taças, garfo, faca ou com a mão mesmo.
Os mais antenados devem ter percebido que não andei tão parado assim. É só conferir o Twitter. Lá postei algumas pílulas deliciosas. São como entradas para o prato principal que será o texto de cada lugar ali comentado. Aguardem!

Para desenferrujar vou falar do velho continente. Mas especificamente Paris, Roma, Amalfi, Florença, Pisa, Bolonha e Veneza. Após 15 dias de alta-baixa-média gastronomia européia posso dizer que a balança do conceito vs produto ficou equilibrada. Alguns pratos superaram a expectativa e outros nem chegaram perto.

A aventura tem início em Paris, em uma das muitas boulangeries da rede Paul! Nossa!
As pessoas faziam fila para comprar os pães da pequena loja da Champs Élysées. Após fazer a minha escolha entendi o motivo de tamanho interesse. Consigo me lembrar da textura e do sabor do pão de azeitonas pretas e do pão adocicado que comi ali, naquele primeiro dia de velho mundo. A sensação? Bem, foi a de que tinha começado com o pé direito!

O parisiense não desgruda de um pedaço de pão. A qualquer hora do dia ou da noite, seja na bicicleta, metrô, trem ou andando pela rua muitos deles estão com uma bela baguete entre os dedos. A boca cheia e os pescoços protegidos pelos cachecóis são a constante do lugar.

Os restaurantes também estão espalhados por toda a Paris. O George V, na Champs Élysées, tem cardápio convidativo e atendimento simpático. Se descobrirem que você é brasileiro aumenta a simpatia e conseguem até garçom para falar um português pra lá de forçado contigo. Mas isso, na mais alta cordialidade. Muito tinha ouvido falar do mau humor francês. Ouvir sobre isso, ouvi muito. Mas ver...não tive oportunidade. Muito pelo contrário. Só tenho elogios.

Os pratos foram: sopa de cebola com queijo gratinado, scargot e magret carnard (fatias de pato com batata souté e tomate cereja). A sopa, quentíssima, com recheio de pão e generosa quantidade de queijo estava perfeita. Assim como o scargot à la Bourguignonne (lesmas da Borgonha servidas na própria concha com alho,manteiga e salsa) Já o magret...comi melhores aqui no Brasil. Ele chegou à mesa frio e a carne estava dura. O tempero, uma delícia, mas o prato não era só o tempero, não é mesmo?

Nas ruas parisienses se pode encontrar muitos alimentos expostos. A baixa temperatura auxilia na conservação dos peixes, lagostas e outros que ocupam as bancas espalhadas pelas calçadas. Verdadeiras imensidões vermelhas de tomates e morangos, aspargos e as onipresentes ostras também dividem o espaço.

As do restaurante D’ Alsace, na champs Élysées, são deliciosas. Chegam às mesas repousadas em enormes platôs cobertos de gelo. Para uma simples degustação chegam também pão preto, molho, biscoitinhos salgados, manteigas, baguete e água. Para acompanhar, espumante. Perfeito!

Estando em Paris, vale a pena conhecer a área conhecida como Quartier Latin. É uma região bem movimentada, de ruas estreitas e muitos restaurantes. A dica é saltar na estação de metrô Odeon, atravessar a rua e percorrer uma travessa pela qual se acessa o outro lado do Quartier. Lá conheci o restaurante greco-francês Orestias. Atendimento simpaticíssimo e bom preço são os adjetivos. A comida é simples e gostosa. A entrada foi patê de campagne, seguido de costeletas de cordeiro com arroz e batatas fritas como prato principal e queijo brie com manteiga para sobremesa. Para beber, vinho tinto grego.

Lembra-se das ostras do D’ Alsace? Pois voltamos lá para conferir, dessa vez, o prato principal. Como o nome da casa já diz muito sobre o que seria a especialidade, procuramos não arriscar e pedimos a chucrute. Quantos sabores e aromas estavam ali, a minha frente, não sei precisar. Mas a imagem daquele misto de salgados que acompanhei com uma grande caneca de cerveja ficou marcada. Viva a Alemanha!

Nesta viagem não deu tempo de apreciar os queijos franceses como eles merecem. Na verdade seria necessário realizar outra viagem dedicada exclusivamente a eles. São centenas em uma única loja. Seja na rua Mouffetard (fica numa região chamada Jardins des Plantes), seja na loja do bairro. Inesquecíveis! Nos sabores e nos aromas.

Crepes, carrochos-quentes com queijo derretido, kebabs, croqui-monsier (misto quente) e sorvetes são um show à parte. Esses lanchinhos têm que ser feitos. Nem que você coma um de cada. O que não vale é não experimentar de tudo. Surpreenda-se! Um bom crepe salgado (loja Chez Nicos), o melhor sorvete (em frente a loja Chez Nicos) e o melhor chocolate (na mesma rua da loja Chez Nicos) comi na rua Mouffetard. No caso do sorvete e do chocolate (Barthion) também foram os melhores que já experimentei.

Quando não estava bebendo vinho bebia a cerveja local 1664. Pilsen gostosa e suave. Então se pode chegar a conclusão de que bebi pouca cerveja, não é mesmo?

Também provei o Beauf Borguignhon, prato que já tinha encarado nas mesas brasileiras, que tem nome refinado, mas em português é músculo temperado. Esse, na região de Montmartre, foi uma boa saideira.

O próximo texto será sobre os sabores da Itália.

Au revoir.

Trilha sonora:

* Este texto foi escrito no quase silêncio de uma fazenda lá de Silva Jardim. O ambiente perfeito para um grande retorno.


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