28 de jul. de 2008

O Primeiro

Bem, o primeiro tem que ser o mais freqüente. Aquele em que assim que chegamos, o nosso melhor amigo, postado do outro lado do balcão, já nos presenteia com a bebida preferida. Isso antes de dizer boa noite, bom dia ou boa tarde. Como mistério não é o motivo desta conversa, vou dar logo nome aos bois.

Estou falando do Bunda de Fora. O codinome despojado já deixou para trás a origem lusitana do boteco que remonta 1957 e que originalmente era conhecido como Aboim. Bunda de Fora ou Aboim? Pouca diferença faz, já que o bar não tem letreiro, banner, placa, homem-sanduíche, enfim, nada que anuncie o nome do estabelecimento. Para falar a verdade, a única identificação vem do insistente guardanapo de papel no qual se lê: Bar Bunda de Fora. Pronto! Está batizado!

Tem gente que implica com tamanho. Eu sou partidário do lema “tamanho não é documento”. De dimensões modestas o boteco da Rua Souza Lima 16, situado no melhor ponto de Copacabana, pertinho de lugares já conhecidos da boemia carioca como Help, Morro do Pavãozinho, Forte de Copacabana e a nossa praia, faz muito bonito na seleção de rótulos de scoth e no tamanho da dose.

É o whisky mais honesto do Rio de Janeiro. Marcas originais (por favor) como Red Label e Grant’s a R$7, a dose (sem reguinha miserável na garrafa e nem medidores para cafezinhos), e Logan e Buchanna’s a R$ 10. Isso para ficar nessas quatro marcas, porque é grande a variedade de rótulos.

Para rebater, pasteizinhos de queijo provolone, carne, carne-seca, bacalhau ou queijo minas. Todos feitos na hora, mas nem todos os dias tem todos os sabores. Tem que ir tentando. Outra linha de tira-gostos são os que ficam expostos na estufa. Lingüiças, pedaços de frango e carnes impossíveis de serem identificadas a olho nu são freqüentes por ali. Para os mais famintos tem rabada, pernil, galinha ao molho pardo e outras maravilhas que fervem nos caldeirões comandados pelo seu Zé.

João, dono do único abridor do bar, paraibano gente boa que comanda a festa, subverteu as regras dos botecos fazendo dos clientes seus funcionários-honorários “deve ter aprendido essa com o Alfredinho”. É só parar ao lado da geladeira que o João grita: -Você aí! Pega uma cerveja aí pra mim! Agora, cuidado para não congelar a mão! A cerveja é perfeita.

De dia, o bar abriga senhores e senhoras do pós-praia, ambulantes, intelectuais e jovens de personalidade própria. À noite vêm os universitários, os moradores mais próximos e os executivos.

Quer usar o banheiro e é mulher? Melhor ir no outro boteco: o da esquina. Banheiro não é o forte do Bunda, apesar do nome.

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Escrito ao som de Curare, Jou Jou Balangadão, Tim tim por tim tim e Estate. Todas do CD Prado Pereira de Oliveira, do João Gilberto.

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